10 Outubro 2014

Alguns países no mundo continuam a sentenciar à morte ou a executar pessoas com deficiência mental e intelectual, numa violação clara das normas internacionais, acusa a Amnistia Internacional esta sexta-feira, 10 de outubro, quando se assinala o Dia Mundial Contra a Pena de Morte.

Numa declaração pública, este ano a organização e a Coligação Mundial contra a Pena de Morte estão a destacar, neste dia, a pena capital aplicada a pessoas com deficiências mentais e intelectuais. A Amnistia Internacional documentou casos de pessoas que sofrem desse tipo de doenças e que enfrentam a execução ou foram já executadas em países como os Estados Unidos da América,  o Japão e o Paquistão. 

Refiram-se alguns exemplos:

 

Nos Estados Unidos da América,

– Askari Abdullah Muhammad foi executado na Florida a 7 de janeiro de 2014 por um crime cometido em 1980. Tinha uma longa história de grave doença mental, incluindo uma esquizofrenia paranoica diagnosticada.

– Ramiro Hernandez Llanas, de origem mexicana, foi executado a 9 de abril de 2014 no Texas, apesar de existirem provas da sua deficiência mental, registada em seis testes de QI diferentes realizados na última década.

– Frank Walls e Michael Zack estão no corredor da morte, na Florida, e têm um passado de trauma mental severo. Já esgotaram as possibilidades de recurso em tribunal.

 

No Japão,

– Hakamada Iwao tem agora 78 anos. Foi condenado à morte por assassinato após um julgamento injusto realizado em 1968. É a pessoa que está há mais anos no corredor da morte em todo o mundo. Desenvolveu problemas mentais severos nas décadas em que foi mantido em regime de solitária. Foi temporariamente libertado em março de 2014 e pode voltar a ser julgado.

– Matusmoto Kenji está no corredor da morte por assassinato desde 1993 e pode ser executado a qualquer momento. Tem uma deficiência mental resultado de envenenamento com mercúrio (Doença de Minamata). Há registos de que é paranoico e incoerente, resultado da doença mental que desenvolveu durante a detenção no corredor da morte. Os advogados querem que seja novamente julgado.

 

No Paquistão,

– Mohammad Asghar foi diagnosticado com esquizofrenia paranoica em 2010, no Reino Unido. Mudou-se para o Paquistão onde foi condenado, este ano de 2014, por blasfémia e sentenciado à morte.

Se os sistemas de justiça criminal destes Estados não forem urgentemente reformados, muito mais pessoas estão em risco. “As normas internacionais sobre deficiência mental e intelectual são salvaguardas importantes para pessoas vulneráveis.Não pretendem desculpabilizar crimes horrendos, mas estabelecer parâmetros para a pena que pode ser aplicada”, salienta a diretora para os assuntos globais da Amnistia Internacional, Audrey Gaughran.

“A Amnistia Internacional opõe-se à pena de morte em todas as circunstâncias – é uma forma cruel, desumana e degradante de punição. Mas nos países que continuam a executar, e até que a pena de morte seja totalmente abolida, as normas internacionais – incluindo as que proíbem a aplicação da pena capital a certos grupos vulneráveis – têm de ser respeitadas e implementadas”.

A diretora da Amnistia Internacional esclarece que as “normas internacionais indicam, de forma clara,  que quem sofre de doenças mentais e intelectuais não deve enfrentar o castigo final”. Acrescenta: “muitas vezes o que acontece é que as deficiências mentais não são identificadas durante os processos criminais”.

Audrey Gaughran deixa o apelo: “os países que ainda executam devem garantir que há recursos para realizar avaliações rigorosas e independentes a todas as pessoas que enfrentem a pena de morte, desde o momento em que são acusadas e depois da sentença”.

Ao mesmo tempo, “a Amnistia Internacional insta os governos de todos os países que ainda recorrem à pena de morte para estabelecerem de imediato uma moratória às execuções, a caminho da abolição. O que hoje estamos a destacar é só outro exemplo da injustiça deste tipo de pena”.

Artigos Relacionados

Bem-vind@ à Amnistia Internacional Portugal!

Junta-te a nós!