28 Outubro 2013

Um grupo de mulheres sauditas saiu às ruas conduzindo os seus carros, neste sábado, num protesto coletivo em desafio aberto à proibição na Arábia Saudita que as impede há décadas de conduzirem livremente.

As autoridades sauditas tinham reforçado na semana passada as ameaças contra todas as mulheres que desafiassem esta proibição, frisando que as mesmas, assim como os apoiantes do protesto, enfrentariam punições. A resposta seria “firme e determinada”, foi frisado pelo Ministério do Interior saudita, sem especificar porém quais as repercussões.

Nesta vaga de repressão, ainda na semana passada, o site da campanha oct26driving.org, gerido por ativistas sauditas, foi alvo de um ataque de pirataria e nele colocada uma mensagem ameaçadora: “Deixem de liderar as mulheres sauditas… acidente”.

Apesar das ameaças, várias sauditas decidiram conduzir e postaram vídeos no YouTube em que se filmaram a fazer trajetos dos seus quotidianos em várias cidades do país a 26 de outubro.

Umas destas ativistas explicou que conduzir “é um direito natural, dos mais simples e básicos direitos, inerente à liberdade de deslocação”. “[O direito a conduzir] dará às mulheres a sensação de controlo sobre as suas próprias vidas”, sublinhou.

“As autoridades sauditas argumentam que a sociedade apoia a proibição [de condução] e que a mesma não discrimina as mulheres. Mas, ao mesmo tempo, continuam a reprimir e a intimidar as mulheres ativistas”, frisou o Diretor Interino do Programa da Amnistia Internacional para o Médio Oriente e Norte de África.

“Isto inclui ameaças por telefone e através da internet, proibições de deslocação e detenções arbitrárias, pressão sobre as ativistas e familiares para assinarem compromissos de que não conduzirão, e lançando mão também dos órgãos de comunicação social, controlados pelo Estado, para desacreditar as ativistas”, sustentou aquele responsável.

A Arábia Saudita é o único país do mundo em que as mulheres estão proibidas de conduzir, mesmo que sejam detentoras de carta de condução internacional válida. A proibição não está oficializada em lei, mas um decreto ministerial emitido em 1990 formalizou esta prática do costume saudita e quem o viole enfrenta a possibilidade de detenção.

A 10 de outubro, a ativista Eman al-Nafjan foi interpelada pela polícia em Riade enquanto filmava uma outra mulher, Azza, a conduzir. Foram ambas detidas e conduzidas para a esquadra onde os polícias as forçaram a assinar declarações de compromisso de que não voltariam a cometer “o delito”.

O protesto deste sábado foi o terceiro no país a realizar-se desde 1990, altura em que várias mulheres foram detidas e despedidas dos seus trabalhos.

Em 2011 o movimento relançou esforços com uma campanha online apelando às mulheres possuidoras de cartas de condução internacionais que conduzissem nas estradas do país: esta campanha, conhecida como “Women2Drive”, lançou já mão das redes sociais para encorajar as sauditas a conduzirem nas suas rotinas diárias.

Em 2012 a Amnistia Internacional juntou-se a esta campanha com uma ação que pedia às mulheres de todo o mundo que se fotografassem ou filmassem a conduzir.

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