25 Julho 2015

 

Faz já um ano que a Amnistia Internacional lançou a inovadora aplicação Panic Button, capaz de transformar um telemóvel num sistema de alarme em casos de risco. A conselheira da Amnistia Internacional em Tecnologia e Direitos Humanos Tanya O’Carroll faz aqui o balanço dos primeiros 12 meses de existência da app e de que forma esta ferramenta está a mudar a vida e o trabalho de defensores de direitos humanos.

 

“Um ano passado desde o lançamento do Panic Button, a aplicação (app) da Amnistia Internacional criada para os ativistas de direitos humanos dá já sinais claros de os estar a ajudar a preparem-se para eventuais ataques, coordenarem as suas redes de ativismo e a manterem-se em segurança.

‘Temos medo. Temos medo que o rapto que aconteceu aos nossos pais também nos possa acontecer a nós’ – a mãe e o avô de Ipe Soco foram raptados do carro em que viajam e estão desaparecidos. Agora, este filipino trabalha para a Desaparecidos, uma organização que trabalha em prol das vítimas de desaparecimentos forçados nas Filipinas. Conversámos durante um workshop sobre o Panic Button, a aplicação para telemóveis Android que visa ajudar os ativistas de direitos humanos que estão em risco de sofrer algum tipo de ataque.

Desenvolvida em parceria com o iilab, o engine room e a Frontline Defenders, a aplicação é um ‘sinal de socorro’ móvel que, quando ativado, envia para três destinatários uma mensagem de alerta e uma atualização de localização a cada cinco minutos. A aplicação tem, assim, o poder de transformar um smartphone num sistema de alarme que pode ser accionado para alertar outros ativistas em caso de emergência de risco e violação de direitos humanos.

Mas é também muito mais do que uma aplicação móvel. O Panic Button encoraja os ativistas como Ipe Soco a estarem preparados e a fazerem planos de segurança com pessoas em que confiem, para que lhes possam acudir se algo acontecer.

“Todos dias garanto que a minha irmã sabe onde é que eu vou e que tipo de trabalho é vou fazer nesse dia. Digo-lhe mesmo quanto tempo penso que vou estar num determinado sítio e a que horas é que ela pode contar que eu vou estar de volta a casa”, conta Ipe Soco.

Desenvolver um plano de ação

Este ativista filipino faz parte do grupo de 120 ativistas, de 17 países, que estão a ajudar a testar a app da Amnistia Internacional e a integrá-la nas suas formas de trabalhar. Estes ativistas vivem frequentemente com a ameaça constante de serem detidos ou atacados. Mas ao informarem os seus contactos sobre esses riscos e ao desenvolverem com essa rede um plano de ação, conseguem readquirir algum controlo sobre a sua própria segurança. Nos testes que estão a ser feitos ao Panic Button, a Amnistia Internacional designa este processo como ‘desenvolver um PACT’ (abreviação de ‘Prepare-Act’) [que se traduz por ‘Preparar-Agir’ e em que a contração em inglês resulta na palavra ‘pacto’].

Os ativistas envolvidos no projeto apontam que ter um PACT os tornou mais conscientes das questões de segurança, e fê-los passar a contactarem mais frequentemente uns com os outros para se certificarem que estão bem. Disseram também que esta ferramenta os faz sentir mais confiantes e mais seguros, trazendo-lhes um grau de tranquilidade importante quando estão a trabalhar em ambientes de elevado risco.

Um ativista de El Salvador referiu, num workshop feito em São Salvador, que o Panic Button é “uma garantia de que, se em alguma altura acontecer algo, há companheiros que saberão o que se passa e o que podem fazer para ajudar”.

Desta forma, a tecnologia é útil na medida das práticas seguidas por aqueles que a usam. O mais importante será sempre a comunicação, o bom senso e comunidades fortes. Ou, como outro ativista das Filipinas o descreve: “A segurança é a comunidade. Ter um PACT dá uma sensação de segurança”.

Dar aos ativistas as ferramentas de que precisam

Inevitavelmente, o uso de tecnologia traz os seus desafios. Na avaliação que a Amnistia Internacional fez deste primeiro ano de utilização do Panic Button, os ativistas reportaram também alguns problemas técnicos, fraca área de cobertura do sinal nas áreas mais remotas e instabilidade nos sinais de GPS. A organização de direitos humanos está a trabalhar para continuar a melhorar a aplicação e todos os materiais de suporte à app para que sejam tão confiáveis e relevantes quanto possível.

A expectativa da Amnistia Internacional é que os ativistas de direitos humanos como Ipe Soco tenham as ferramentas de que precisam para serem capazes de dar resposta e acudir quando alguém se encontra em perigo. E que consigam obter informações vitais sobre a localização e hora a que algo ocorre de forma a que os atacantes possam ser depois julgados.

‘Fazer este tipo de trabalho é muito arriscado’, frisa Ipe Soco. ‘Mas o Panic Button ajuda mesmo a minimizar os riscos. Ou pelo menos a informar familiares ou a comunidade da vítima sobre o seu paradeiro. Só desejava que a minha família tivesse esta ferramenta no dia em que desapareceram, para que, pelo menos, soubéssemos onde começar a procura-los’.”

 

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