16 Agosto 2011

 

Quatro membros da equipa de antropologia forense da Guatemala receberam ameaças de morte depois de testemunharem num julgamento sobre o massacre de 1982, no qual o exército terá assassinado 250 pessoas.
 
Freddu Peccerrelli, membro da Fundação de Antropologia Forense da Guatemala, recebeu, a 8 de Agosto, uma ameaça de morte por escrito. O aviso também mencionava os nomes dos seus colegas José Samuel Suasnavar, Leonel Estuardo Paiz e Omar Bertoni, todos testemunhas no julgamento. 
 
A ameaça chegou depois de um juiz da Cidade da Guatemala ter condenado, a 2 de Agosto, quatro ex-soldados de uma unidade de elite do exército a 6060 anos de cadeia pelo seu papel no massacre de 1982, em Dos Erres, no norte da Guatemala. 
 
“É inaceitável que testemunhas especialistas sejam intimidadas desta forma, as autoridades da Guatemala devem ordenar uma investigação independente, minuciosa e imparcial a estas ameaças, levando à justiça os responsáveis”, afirmou Sebastian Elgueta, Investigador da Amnistia Internacional para a América Central. 
 
“Os cidadãos da Guatemala esperaram três décadas por justiça em relação ao massacre de Dois Erres e a centenas de outras violações graves dos direitos humanos. A incapacidade de pôr fim a estas ameaças de morte lançaria uma sombra sobre o processo judicial.”
 
Os soldados condenados no recente julgamento faziam parte de uma unidade de elite, “kaibil”, que chegou a Dos Erres a 5 de Dezembro de 1982, onde torturaram e mataram 250 homens, mulheres e crianças durante três dias, antes de arrasarem a aldeia. Grande parte das mulheres e crianças foram violadas e inúmeros habitantes, incluindo crianças, foram atirados ao poço da cidade.
 
O gabinete do Procurador Público da Guatemala pediu aos especialistas forenses para darem o seu testemunho no julgamento com base no seu trabalho de exumação e análise das vítimas do massacre. 
 
Pecerelli disse à Amnistia Internacional que recebeu um aviso escrito à mão com tinta vermelha que dizia: “Filhos da p***. Vão pagar lentamente, por cada um dos 6060 anos que os nossos companheiros vão sofrer por causa de vocês, agora não vamos simplesmente assistir, vamos deixá-los espancados como os outros.”
 
O aviso dizia ainda: “quando menos esperarem vão morrer. Revolucionários, o vosso ADN não terá uso. As vossas famílias pagarão, servirão de exemplo.”
 
“A Guatemala tem um péssimo histórico de impunidade e permitir que as recentes ameaças não sejam punidas irá apenas consolidar ainda mais esse passado”, acrescentou Sebastian Elgueta. “As autoridades devem consultar os membros da equipa da Fundação de Antropologia Forense da Guatemala para assegurarem que é fornecida protecção total e adequada aos seus especialistas e às suas famílias, garantindo que estas testemunhas não são postas em perigo no futuro.” 

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