Após um fim-de-semana de violentos confrontos no Egito, nos quais 90 pessoas perderam a vida, a Amnistia Internacional volta a condenar o uso excessivo de força policial sobre os manifestantes e apela às autoridades que realizem uma reforma às práticas aplicadas pela polícia.
Um manifestante de 22 anos atingido no ombro, Abdelrahman Koury, conta: “Os disparos das forças de segurança eram ininterruptos. Sobrevivi à violência em frente à sede da Guarda Republicana do Cairo [a 8 de julho, quando 51 apoiantes do deposto Presidente Morsi morreram] mas isto foi muito pior. As pessoas caiam constantemente à minha volta”.
O ministro do Interior, Mohammed Ibrahim, negou que tenham sido usadas munições verdadeiras para dispersar os manifestantes a 27 de julho, mas testemunhos e provas médicas, além de registos em vídeo, sugerem o contrário e descredibilizam esta versão dos acontecimentos.
Dos 80 corpos levados a 28 de julho para a morgue Zeinhoum, no Cairo, 63 foram autopsiados. As conclusões apontam que 51 morreram por ferimentos de bala, 8 atingidos por chumbos de espingardas de pressão, 3 com lesões dos dois tipos de munições e 1 com fraturas no crânio. Os médicos do hospital da Universidade al-Hussein acrescentaram que 60% dos pacientes analisados foram atingidos pelas costas.
“Este último banho de sangue deve ser uma chamada de atenção para as autoridades egípcias sobre a necessidade urgente de reformarem a polícia”, refere Philip Luther, Diretor do Programa da Amnistia Internacional para oMédio Oriente e Norte de África. “Vezes sem conta as forças de segurança usaram força letal num desrespeito total pela vida humana. Não podem continuar a agir neste clima de impunidade”.
Apesar das violações de direitos humanos cometidas pelas forças de segurança contra apoiantes de Morsi, existem registos de que estes últimos estão a deter e a torturar pessoas ligadas à oposição. A Amnistia Internacional teme pelo destino de três opositores de Morsi desaparecidos a 27 de julho. Mais na notícia: “Egito: polícia deve proteger imparcialmente manifestantes”.