14 Janeiro 2015

As autoridades sauditas têm nas mãos uma oportunidade para melhorarem o seu terrível registo de direitos humanos, dando aval ao apelo internacional em curso para que suspendam de imediato a execução da pena de flagelação pública do ativista e blogger Raif Badawi, sustenta a Amnistia Internacional.

A organização de direitos humanos confirmou que Raif Badawi, condenado em maio do ano passado a dez anos de prisão e mil chicotadas por ter criado o fórum de discussão online “Liberais Sauditas”, será uma vez mais levado a praça pública e de novo vergastado na próxima sexta-feira, 16 de janeiro. A execução da flagelação do ativista começou na passada sexta-feira, 9 de janeiro, logo após as preces, tendo sido submetido às primeiras 50 chicotadas em frente à mesquita de Al-Jafali, em Jidá, a segunda maior cidade da Arábia Saudita.

“Os olhos do mundo estão postos na Arábia Saudita. Se as autoridades sauditas decidirem ignorar a crítica generalizada que lhes está a ser feita e prosseguirem desavergonhadamente com a flagelação de Raif Badawi, o país estará a dar mostras de desrespeito absoluto pela lei internacional e de desprezo pela opinião que o mundo inteiro lhes está a expressar”, frisa o vice-diretor do Programa Médio Oriente e Norte de África da Amnistia Internacional, Said Boumedouha.

O perito sublinha que “a flagelação e quaisquer outras formas de punição judicial física violam a proibição de tortura e de outros maus-tratos”. “Se continuarem a aplicar esta pena desumana, as autoridades sauditas estarão a desprezar de forma flagrante os mais básicos princípios de direitos humanos”, prossegue.

Os Governos do Canadá, Estados Unidos, Alemanha e Noruega, entre outros, emitiram declarações oficiais condenando a flagelação de Raif Badwai. Milhares de pessoas no mundo inteiro demonstraram o seu ultraje sobre a condenação e punição do ativista numa vaga imensa de tweets e posts nas redes sociais, e centenas juntaram-se em protestos em frente às embaixadas da Arábia Saudita em numerosos países.

“A comunidade internacional tem de manter a pressão sobre as autoridades sauditas. A pena cruel e injusta que foi dada a Raif Badwai tem de ser suspensa imediatamente”, insta Said Boumedouha.

A mulher do ativista, Ensaf Haidar, afirmou à Amnistia Internacional que teme que o marido não seja capaz de suportar fisicamente nova flagelação: “Raif disse-me que está em enorme sofrimento, tem imensas dores depois da aplicação da punição na sexta-feira [9 de janeiro]. Ele está muito debilitado, o estado de saúde dele é frágil e tenho a certeza que não conseguirá aguentar mais outra série de chicotadas”.

“Contei aos nossos filhos o que se passou na semana passada para que eles não soubessem disso através de amigos na escola. Foi um choque para eles. A pressão internacional é crucial; acredito que se mantivermos esta força, os resultados acabarão por ser conseguidos. É preciso continuarmos a lutar”, apelou Ensaf Haidar.

Num outro exemplo da absoluta intolerância da Arábia Saudita à dissidência pacífica, o advogado de Raif Badawi, Waleed Abu al-Khair, jurista especialista em direitos humanos, viu esta segunda-feira, 12 de janeiro, a sua sentença confirmada em julgamento de recurso.

Waleed Abu al-Khair fora condenado em primeira instância penal a 15 anos de prisão, dez desses anos de pena efetiva, por “quebra de lealdade” ao rei, ofensas ao tribunal e por fundar uma organização não autorizada. O juiz encarregue do recurso decidiu porém esta semana que o advogado terá de cumprir todos os 15 anos na prisão, argumentando que ele se recusou a pedir desculpa pelas suas “ofensas”.

A Amnistia Internacional está a fazer campanha pela libertação imediata e incondicional de Raif Badawi, apelando também ao rei saudita para que suspenda prontamente a execução da flagelação do ativista. Assine a petição! Participe também na ação que a organização de direitos humanos está a promover nas redes sociais, enviando tweets às autoridades sauditas e portuguesas para manter a pressão a favor da libertação de Raif Badawi.
 

 

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