13 Abril 2017

A artista musical de renome internacional e determinada ativista Alicia Keys a par do inspirador movimento dos Povos Indígenas que lutam pelos seus direitos no Canadá são honrados este ano com o Prémio Embaixador de Consciência da Amnistia Internacional, é anunciado esta quinta-feira, 13 de abril, pela organização de direitos humanos.

A cerimónia de entrega do galardão, que reconhece o trabalho notável em defesa dos direitos e liberdades, realiza-se a 27 de maio próximo, em Montréal, no Canadá. O prémio a celebrar a luta dos povos indígenas do Canada será aceite por seis pessoas que representam a força e a diversidade do movimento e que batalham corajosamente para pôr fim à discriminação e garantir a segurança e bem-estar das famílias e comunidades indígenas: Cindy Blackstock, Delilah Saunders, Melanie Morrison, o senador Murray Sinclair, Melissa Mollen Dupuis e Widia Larivière.

“O Prémio Embaixador e Consciência é a mais elevada honra atribuída pela Amnistia Internacional e celebra quem demonstra liderança e coragem extraordinárias na defesa dos direitos humanos”, frisa o secretário-geral da Amnistia Internacional, Salil Shetty. “Tanto Alicia Keys como o movimento de direitos indígenas do Canadá têm dado, à sua maneira, contributos inspiradores e relevantes para os avanços de direitos humanos e para garantir mais e melhores possibilidades para as gerações futuras. E, crucialmente, lembram-nos que não devemos nunca subestimar quão longe a paixão e a criatividade nos podem levar na luta contra a injustiça”, explica ainda.

Alicia Keys: da música ao ativismo

Alicia Keys tem potenciado a sua carreira e renome conquistado como artista galardoada 15 vezes com o prémio musical Grammy para inspirar e promover a mudança.

“Receber esta honra enorme e estar junto com o movimento dos direitos indígenas é uma experiência de grande humildade”, sublinha Alicia Keys. “É algo que me encoraja a continuar a falar contra a injustiça e a usar a minha plataforma de reconhecimento para chamar a atenção para os assuntos que são importantes para mim”, avança.

Frequentemente referida como a “Rainha do R&B” (rhythm and blues), Alicia Keys tem vindo a fundir cada vez mais o ativismo com a sua arte. O extenso trabalho filantrópico desenvolvido inclui ser cofundadora da organização não-lucrativa Keep a Child Alive (KCA), que presta tratamento e cuidados a crianças e famílias afetadas pelo Vírus de Imunodeficiência Humana (VIH, HIV na sigla em inglês) em África e na Índia. A KCA trabalha com líderes locais em organizações de base no terreno para criar, concretizar e partilhar soluções inovadoras para alguns dos mais prementes desafios no combate ao VIH/Sida. A KCA angariou mais de 60 milhões de dólares para levar tratamentos contra a sida a centenas de milhares de crianças e às suas famílias, assim como para promover uma maior consciencialização e apoio.

Em 2014, Alicia Keys foi cofundadora também do We Are Here Movement, que visa encorajar os jovens a mobilizarem-se em prol de mudanças, lançando a pergunta “Why are you here?” (Por que estás aqui?) como uma chamada à ação. Com este movimento, Alicia Keys procurou galvanizar o seu público a agir em questões como a reforma da justiça penal e o fim da violência causada pelas armas.

Perturbada com o facto de que atualmente há mais refugiados no mundo do que em qualquer outro período da história, esta artista ajudou a produzir e integra o elenco de uma curta-metragem intitulada “Let Me In”, realizada para assinalar, em 2016, o Dia Mundial do Refugiado. Com a canção “Hallelujah”, esta curta mostra a crise de refugiados aos espectadores contando a poderosa história de uma jovem família americana forçada a fugir para a fronteira dos Estados Unidos com o México.

“A nossa consciência é algo com que todos somos agraciados quando nascemos, independentemente de quem somos”, nota Alicia Keys. “Aquela vozinha que ouvimos e nos diz que algo está errado – uso-a sempre como meu guia. A minha voz interior grita comigo desde que eu era pequena! Agora digo-lhe, está bem, e o que posso fazer? Essa é uma pergunta que devemos fazer a nós próprios e então agir em concordância”.

Fazer brilhar uma luz pelos direitos dos Povos Indígenas no Canadá

Apesar de viverem num dos países mais ricos do mundo, as mulheres, homens e crianças indígenas estão consistentemente entre os mais marginalizados membros da sociedade no Canadá. Atualmente, ao fim de décadas de silêncio e apatia públicos, um movimento vibrante e diverso de ativistas indígenas captou a atenção da sociedade civil no país.

E este ano o Prémio Embaixador de Consciência da Amnistia Internacional é partilhado também entre líderes e ativistas do movimento que demonstraram uma coragem notável na liderança de batalhas muito importantes pelo reconhecimento legal de igualdade, na defesa do direito à terra e inspirando pessoas, indígenas e não indígenas, a agirem.

Desde dezembro de 2012, as bases do movimento Idle No More têm ajudado a trazer para a ribalta a continuada luta dos povos indígenas, para que consigam tomar as suas próprias decisões sobre as suas terras, os seus recursos e o seu meio-ambiente. Na vanguarda deste protesto estiveram Melissa Mollen e Widia Larivière, cofundadoras no movimento no Quebeque.

Maioritariamente liderado por mulheres, este movimento representa uma nova vaga de mobilização em defesa dos povos indígenas dando uma importante plataforma aos ativistas de base, acalentanto o orgulho cultural dos jovens indígenas e aproximando os povos indígenas e não indígenas do Canadá em torno de questões comuns como o meio-ambiente e a economia.

Melissa Mollen e Widia Lariviére, em declaração conjunta, frisam que “receber um prémio internacional tão prestigiante é o reconhecimento do trabalho feito por milhares de pessoas que têm, à sua maneira, defendido todos os dias os direitos dos Povos Indígenas num movimento espontâneo e pacífico de cidadãos”.

“Numa sociedade que encoraja a conquista do poder e os lucros acima do bem-estar da comunidade como um todo, as palavras e as ações das comunidades – e dos membros que as integram e que estão em maior risco de serem confrontados com injustiça social e discriminação – são as ferramentas mais eficazes que temos no combate aos efeitos da colonização no Canadá”.

Cindy Blackstock, também reconhecida com o galardão da organização de direitos humanos, expressou esperança de que o prémio ajude a captar a atenção global para as injustiças que ainda prevalecem no Canadá.

Líder da organização First Nations Child and Family Caring Society, Cindy Blackstock encabeçou uma batalha legal durante mais de uma década contra a falta de financiamento público dos serviços sociais para as crianças da First Nations. Em 2016, o Tribunal canadiano de Direitos Humanos emitiu uma decisão histórica, instando o Governo federal a tomar medidas imediatas para pôr fim a tais práticas discriminatórias. Ainda assim, o Governo do Canadá continuou a adiar o cumprimento total da decisão do tribunal, o que significa que as crianças da First Nations estão ainda efetivamente a ser discriminadas.

“As pessoas estão a aperceber-se e a consciencializarem-se sobre a continuada discriminação racial das crianças e famílias da First Nations que é feita pelo Governo canadiano”, nota Cindy Blackstock. “Agora a questão é: o que vamos fazer sobre isso?”, interpõe a líder ativista. “Vamos permitir que o Canadá celebre os seus 150 anos ao mesmo tempo que o racismo persiste, ou vamos fazer-nos ouvir e exigir o fim da discriminação?”

Prémio Embaixador de Consciência é um tributo à coragem face à injustiça

O Prémio Embaixador de Consciência, atribuído anualmente pela Amnistia Internacional, presta tributo e celebra pessoas e grupos que mostram uma coragem excecional no confronto à injustiça, que lançaram mãos do seu talento para inspirar outros ou que contribuíram especialmente para o avanço dos direitos humanos.

A atribuição do galardão visa também lançar o debate, encorajar a ação pública e consciencializar a sociedade civil com histórias inspiradoras e sobre a causa dos direitos humanos.

Entre as pessoas e grupos reconhecidos com este prémio ao longo dos anos estão músicos e artistas de renome internacional como Harry Belafonte, Joan Baez e Ai Weiwei e personalidades inspiradoras em que se incluem Malala Yousafzai e Nelson Mandela. A criação do prémio da Amnistia Internacional foi inspirada pelo poema “From the Republic of Conscience”, do poeta irlandês Seamus Heaney.

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