21 Junho 2012

No Dia Mundial do Refugiado, Sherif Elsayed-Ali da Amnistia Internacional escreve no seu blogue acerca dos milhões de refugiados e migrantes que ano após ano esperam por uma solução para o seu sofrimento.

No verão de 2001, trabalhava para a ACNUR, a Agência para os Refugiados da ONU, no Cairo. Entrevistei um jovem requerente de asilo naquele que na altura era o sul do Sudão. Era um homem muito alto, mas magro, no final da sua adolescência. Testemunhou coisas que ninguém deveria viver.

Anos antes, viu a sua aldeia ser reduzida a cinzas, mulheres serem violadas e a sua família assassinada.
Foi levado pela milícia armada que destruiu tudo o que ele conhecia e que o forçou a trabalhar como pastor de gado, efetivamente como escravo.

Foram precisos vários anos antes que conseguisse escapar e quando o fez, deixou o Sudão rumo ao Egito, sem família ou amigos.

Tal como os milhares que saíram do Sudão – e outros países – e que chegavam ao Egito a cada ano no início dos anos 2000, a sua esperança era ser realojado noutro país. O Egito era um lugar de relativa segurança, longe da guerra e da violência sistemática. Mas não era um local a que se chamasse casa.

O melhor que os refugiados no Egito poderiam esperar era a proteção mínima – não serem enviados de novo para os locais de onde fugiram.

No entanto, não podiam trabalhar legalmente, estudar ou ser integrados – isto levou a que os refugiados que escaparam às perseguições e aos conflitos nos seus próprios países ficassem no limbo num país que não os queria, esperando serem realojados noutro país onde pudessem talvez recomeçar as suas vidas.

Infelizmente, milhões de refugiados nem sequer gozam desta proteção mínima.

Dadaab, o maior campo de refugiados do mundo, foi instalado no Quénia em 1992. Hoje, é casa de mais de 465 mil refugiados somalis. Os refugiados sofrem com a sobrelotação, as fracas condições de vida e falta de liberdade de movimento. Não só não conseguem regressar aos seus países, como Dadaab é cada vez mais inseguro à medida que o conflito na Somália chega ao campo.

No entanto, as dificuldades que os refugiados enfrentam não estão confinadas ao Médio Oriente e a África. No Chipre, os requerentes de asilo são detidos em condições precárias sem acesso a cuidado médico adequado. Alguns são detidos ao mesmo tempo que os seus pedidos estão a ser examinados.

Nos últimos anos, países como a Itália e a Espanha aumentaram a cooperação com as nações do norte e ocidente africano para impedir que os requerentes de asilo e os migrantes alcancem a Europa. No caso da cooperação entre a Itália e a Líbia, há relatos de barcos cheios de pessoas serem enviados de volta para a Líbia onde correm risco de sofrerem tortura e detenção prolongada.

Os refugiados e requerentes de asilo, como os migrantes, são eternos bodes expiatórios. Os políticos culpam-nos pelos índices de criminalidade, falta de emprego e mesmo de alarmes relacionados com a saúde.

Isto, por outro lado, alimenta a xenofobia e aumenta o risco de violência contra eles. Os refugiados e os requerentes de asilo estão vulneráveis porque, regra geral, têm pouca influência económica ou política. Nos meses recentes, a Grécia testemunhou um aumento dos ataques de motivação racial contra os refugiados, requerentes de asilo e migrantes.

É por isto que, na Amnistia Internacional, estamos determinados a dar visibilidade às questões que afetam os refugiados e os requerentes de asilo e a responsabilizar os governos pela maneira como os trata.

No início deste mês, lançámos uma campanha para a proteção dos direitos dos refugiados, requerentes de asilo e migrantes na Europa intitulada “When You Don’t Exist”.

Pode assistir ao vídeo da campanha e visitar o website aqui. Estamos também a fazer campanha por um aumento no número total de refugiados a serem realojados, para que os que estejam nas situações mais vulneráveis possam ter um futuro melhor.

Pode ver um pequeno filme sobre Omar, um refugiado somali que deixou o seu país quando era criança e conseguiu chegar à Líbia, e, quando o conflito eclodiu neste país, teve que fugir para o campo de refugiados Choucha, na Tunísia. Em maio deste ano, Omar partiu para a Suécia, tornando-se um dos poucos refugiados em todo o mundo que conseguem um local de reassentamento.

As nossas secções internacionais trabalham incansavelmente para pedirem leis e políticas melhores que defendam os direitos dos refugiados.

Ao longo dos anos, os ativistas da Amnistia Internacional ajudaram a impedir o regresso de milhares de pessoas aos países onde corriam o risco de abusos graves de direitos humanos. Mas o nosso maior desafio continua a ser combater as atitudes predominantes contra os refugiados e requerentes de asilo.

Chegámos agora ao verão de 2012, 11 anos depois de ter conhecido aquele jovem no Cairo. O conflito do qual escapou quando era criança levou, eventualmente, à independência do Sudão do Sul. O conflito no Sudão na fronteira com o Sudão do Sul permanece e dezenas de milhares de civis das áreas afetadas pelo conflito foram forçados a fugir como refugiados para os países vizinhos.

Na África e no resto do mundo, milhões de refugiados esperam ano após ano, sem sucesso, por uma solução para o seu sofrimento. A minha esperança é que não tenham de esperar mais.

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