20 Novembro 2013

A ativista paquistanesa Malala Yousafzai instou a União Europeia a estar unida na defesa “dos mais fracos”, no emotivo e comovente discurso que proferiu no Parlamento Europeu esta quarta-feira, em Estrasburgo, ao receber o Prémio Sakharov para a liberdade de pensamento.

Atrás de uma tribuna que quase a tapava, a adolescente, de 16 anos, frisou que “se deixarmos milhares [de pessoas] para trás, jamais seremos bem-sucedidos, jamais sobreviveremos, mesmo se formos os mais capazes”. “Acredito que para conseguirmos a sobrevivência de todos, os mais fortes têm de lutar pela sobrevivência dos mais fracos”, reiterou.

O prémio, sublinhou, é dedicado “aos heróis sem voz do Paquistão e às pessoas que, por todo o mundo, lutam pelos seus direitos humanos básicos”.

Ela mesma um exemplo de luta e sobrevivência – foi alvo de uma tentativa de assassinato  ordenada pelos talibãs em outubro de 2012, quando regressava da escola para casa –, Malala é uma das vozes mais fortes da defesa do direito à educação, sobretudo para as raparigas no seu país natal, o Paquistão, que frequentemente se veem impedidas de estudar.

Malala Yousafzai, que é também embaixadora de consciência da Amnistia Internacional, notou que o Prémio Sakharov, galardão com que o Parlamento Europeu reconhece anualmente o trabalho feito no âmbito de direitos humanos, a encorajará a continuar a defender a causa que abraçou. Relevou ainda sentir-se “muito honrada” por integrar uma lista, de antigos galardoados, da qual fazem parte personalidades como Nelson Mandela, Aung San Suu Ky e Kofi Annan.

Dirigindo-se à audiência no Parlamento Europeu repetidamente como “meus irmãos e irmãs”, a ativista enumerou as grandes dificuldades vividas por milhares de crianças e jovens em todo o mundo, mas sobretudo na Ásia. “Muitas crianças não têm comida para comer, não têm água para beber e estão sedentas de educação. É alarmante que 57 milhões de crianças no mundo estejam privadas de educação, não possam ir à escola”, apelou, sublinhando que “estas crianças não querem um iPhone, nem uma Xbox, ou uma PlayStation, nem chocolates, só querem um livro e uma caneta”.

“Mas ainda há esperança”

Os desafios no Paquistão, por toda a Ásia, são enormes, apontou ainda Malala, evocando as “muitas raparigas que sofrem com os casamentos forçados em idades muito novas, o tráfico de crianças, os impedimentos para que possam ir à escola, a negligência de que são alvo, os abusos sexuais de que são vítimas, a violência do terrorismo e o medo do terrorismo”.

“Mas ainda há esperança”, sustentou. “Mas ainda há esperança”, repetiu. “E sabem porquê? Há esperança por que estamos aqui juntos, unidos, para falar por elas, para agir”.

Malala disse ainda ter “esperança de que o Parlamento Europeu  olhe para além da Europa, olhe para os países que sofrem, onde as pessoas ainda são privadas dos direitos humanos, onde a liberdade de pensamento é reprimida e a liberdade de expressão acorrentada”.

E urgiu a uma “mudança de ideologia sobre o que é ser poderoso”: “os países poderosos não devem ser definidos pelo número de soldados que têm, nem o de armas que possuem, mas sim pela sua taxa de literacia, pelo número de pessoas com educação, pelo respeito pelos direitos humanos, pela paridade com que são tratados homens e mulheres; os países com um povo talentoso, capaz e com educação, esses é que são os países poderosos”.

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