3 Julho 2024

 

Em reação à possível entrada em bolsa da empresa de vestuário de ultra-fast fashion, SHEIN, na Bolsa de Londres, Dominique Muller, investigadora da Amnistia Internacional especializada na indústria do vestuário, afirmou que “onde a SHEIN vai, outros tentarão segui-la”.

 

“É profundamente preocupante que uma empresa com normas laborais e de direitos humanos questionáveis e um modelo de negócio de ultra-fast fashion insustentável possa vir a colher centenas de milhões de libras, através de uma venda de ações e de uma cotação na Bolsa de Valores de Londres”, expõe Dominique Muller.

A investigadora da Amnistia Internacional alerta que “as autoridades do Reino Unido e a Bolsa de Valores de Londres não devem facilitar a cotação da SHEIN até que sejam acordadas e aplicadas salvaguardas transparentes e vinculativas em relação às normas de direitos humanos internacionalmente aceites. Estas devem abranger toda a sua cadeia de abastecimento. Além disso, quaisquer abusos identificados devem ser totalmente corrigidos”.

“Recompensar os métodos atuais da SHEIN através de uma cotação seria uma vergonha para a Bolsa de Valores de Londres, para os banqueiros que a ajudaram a entrar no mercado e para todos os investidores que pretendem lucrar com ela. Seria um exemplo terrível de um processo que beneficia os ricos, prejudicando os pobres. Valida o ponto de vista de que é aceitável considerar como dispensáveis os trabalhadores e os seus direitos, os produtos das empresas e o meio ambiente”, lembra Dominique Muller.

“Recompensar os métodos atuais da SHEIN através de uma cotação seria uma vergonha para a Bolsa de Valores de Londres, para os banqueiros que a ajudaram a entrar no mercado e para todos os investidores que pretendem lucrar com ela”

Dominique Muller

“É essencial que o novo governo do Reino Unido não permita um nivelamento por baixo em termos de normas empresariais e de direitos humanos. Deve exigir que as empresas impeçam a ocorrência de danos ambientais graves e de violações dos direitos humanos em todas as suas operações e cadeias de abastecimento. Deve permitir que os trabalhadores cujos direitos são violados pelas atividades das empresas em qualquer parte do mundo recorram à justiça através dos tribunais do Reino Unido”, destaca ainda Dominique Muller.

O modelo da SHEIN envolve a subcontratação do fabrico de peças de vestuário numa cadeia de pequenos produtores na China – com pouca transparência e responsabilidade relativamente ao salário ou às condições suportadas pelos trabalhadores – e onde não existe qualquer direito legal de reunião ou de sindicalização. Com grande frequência, as pessoas que fabricam peças de vestuário para empresas de ultra-fast fashion são tratadas como um custo a ser minimizado para que as peças de vestuário produzidas possam ser vendidas a preços muito baixos.

A SHEIN afirma que recorre a auditores independentes para avaliar os salários e as condições dos seus subcontratantes, mas não publica quaisquer pormenores sobre os seus fornecedores e não consegue explicar como corrige os abusos sofridos pelos trabalhadores quando estes são detetados.

“Existe uma falta de divulgação pública e de transparência relativamente à origem e rastreabilidade das matérias-primas utilizadas pelos contratantes na cadeia de abastecimento da SHEIN. Muitas das suas peças de vestuário são feitas de fibras sintéticas derivadas de combustíveis fósseis, o que é insustentável e prejudicial para o ambiente. Grande parte desta ultra-fast fashion acaba rapidamente por ser despejada em aterros, poluindo frequentemente as comunidades do Sul Global”, refere Dominique Muller.

“Grande parte desta ultra-fast fashion acaba rapidamente por ser despejada em aterros, poluindo frequentemente as comunidades do Sul Global

Dominique Muller

 

Contexto

A SHEIN, fundada na China mas atualmente com sede em Singapura, terá apresentado documentos à Bolsa de Valores de Londres como prelúdio da venda de ações a investidores públicos. A marca tem sofrido acusações de que os trabalhadores da sua cadeia de fornecimento recebem menos de 4 centavos de dólar por peça de vestuário produzida. Existem também acusações de que é utilizado algodão colhido em condições de trabalho forçado.

A marca tem sofrido acusações de que os trabalhadores da sua cadeia de fornecimento recebem menos de 4 centavos de dólar por peça de vestuário produzida

Recentemente, os executivos da SHEIN reuniram-se com representantes da Amnistia Internacional e, nesta sequência, responderam por escrito a várias questões relacionadas com os direitos humanos, entre as quais, os seus sistemas de auditoria de fornecedores e de reciclagem de vestuário, bem como o seu programa de capacitação da comunidade de fornecedores.

 

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