3 Julho 2024

 

No meio dos crescentes apelos à regulamentação das redes sociais, a Amnistia Internacional relembrou as suas preocupações e questionou jovens ativistas, que participavam na Cimeira Global da Juventude sobre Direitos Digitais da organização – que se realizou em abril, em Buenos Aires – como é que o TikTok e outras redes sociais podem ser mais seguras para crianças e jovens. As suas respostas podem ser conhecidas num vídeo que a Amnistia Internacional disponibilizou.

 

O TikTok comercializa-se como uma plataforma online de entretenimento, criatividade e comunidade, mas está a tornar-se um espaço cada vez mais tóxico e viciante, o que pode ter impacto na autoimagem, na saúde mental e no bem-estar dos utilizadores mais jovens, correndo o risco de os fazer cair nas armadilhas de conteúdos depressivos e relacionados com a automutilação.

Estes utilizadores mais jovens afirmaram sentir que o TikTok é tóxico e aditivo. Isto significa que correm o risco de cair em padrões viciantes quando utilizam a plataforma e de verem conteúdos nocivos apresentados no seu feed For you” (“Para ti”). As crianças e os jovens que têm conteúdos relacionados com a saúde mental no feed do TikTok podem também ser aliciados a ver mais vídeos promovidos que discutem, romantizam e incentivam pensamentos depressivos, auto-mutilação e suicídio.

está a tornar-se um espaço cada vez mais tóxico e viciante, o que pode ter impacto na autoimagem, na saúde mental e no bem-estar dos utilizadores mais jovens, correndo o risco de os fazer cair nas armadilhas de conteúdos depressivos e relacionados com a automutilação

Na Cimeira Global da Juventude sobre Direitos Digitais da Amnistia Internacional, as crianças e jovens ativistas destacaram os aspetos que consideravam fundamentais o TikTok reavaliar e ter em conta. Mencionaram uma regulamentação eficaz, melhor salvaguarda para proteger os jovens utilizadores da plataforma e o término da hiperpersonalização dos seus feeds.

Alan, um participante de 23 anos da Argentina, alerta que um dos principais problemas do TikTok, neste momento, é que “as pessoas estão a entrar numa plataforma que não se destina a crianças de nove, dez, onze, quinze anos”. Rachana, participante de 23 anos do Nepal, destaca que a plataforma “tem de ser controlada de alguma forma” e que isso “pode ser feito pelos governos e pelo próprio TikTok”.

A forma intrusiva de privacidade do TikTok para gerar lucro rastreia tudo o que o utilizador faz na plataforma para recolher informações sobre os seus comportamentos. Com esta informação, o TikTok tenta prever os seus interesses, estado emocional e bem-estar.

A plataforma faz estas previsões para mostrar ao utilizador conteúdos mais “personalizados” no seu feedFor you” para que este continue a navegar de forma viciante – mesmo que os conteúdos sejam prejudiciais – e para que o TikTok possa direccioná-lo para anúncios a fim de gerar mais dinheiro. Este modelo de negócio prejudicial ameaça os direitos à privacidade, à saúde e à liberdade de pensamento dos utilizadores.

Este modelo de negócio prejudicial ameaça os direitos à privacidade, à saúde e à liberdade de pensamento dos utilizadores

Na Europa, o TikTok está a seguir passos para respeitar os direitos dos utilizadores mais jovens, não permitindo que sejam alvo de publicidade personalizada/comportamental, mas continua a permiti-lo no resto do mundo, onde os direitos destes utilizadores mais jovens são, aparentemente, menos valorizados. No entanto, a Amnistia Internacional sublinha que a plataforma é capaz de fazer melhor se tornar esta proibição global e se deixar de hiperpersonalizar o feed “For You” por defeito, permitindo que os utilizadores escolham – com base no seu consentimento informado e através de uma linguagem percetível para crianças e jovens – se querem um feed personalizado nas suas definições.

Nos casos em que os utilizadores optam pela personalização, o TikTok deve pedir-lhes que comuniquem ativamente o conteúdo que desejam ver no feed “For You”, em vez de este feed ser criado através da recolha massiva de dados proveniente da atividade online dos utilizadores. Além disso, para os utilizadores que escolhem a personalização, o TikTok deve acrescentar novas proteções para impedir que os utilizadores em risco caiam em padrões de utilização viciantes e em armadilhas de conteúdos perigosos e nocivos. Deve também garantir que estas medidas de proteção são realmente eficazes.

 

Contexto

Em 2023, a Amnistia Internacional publicou dois relatórios que destacam os abusos sofridos por crianças e jovens que utilizam o TikTok.

Um dos relatórios, “Driven into the Darkness: How TikTok Encourages Self-harm and Suicidal Ideation”, mostra como a procura da atenção dos jovens utilizadores pelo TikTok pode agravar os seus problemas de saúde mental, como a depressão, a ansiedade e a automutilação. Outro relatório, “I feel Exposed”: Caught in TikTok’s Surveillance Web“, revela que as técnicas de recolha de dados do TikTok que violam os direitos humanos são sustentadas por práticas prejudiciais de envolvimento dos utilizadores.

Ambos os relatórios fazem parte de um conjunto do trabalho da Amnistia Internacional para revelar os modelos de negócio das grandes empresas tecnológicas que dão prioridade aos lucros em detrimento dos direitos humanos.

Anteriormente, a Amnistia Internacional já tinha documentado a forma como os algoritmos do Facebook e a busca imprudente de lucro da Meta contribuíram para as atrocidades perpetradas pelos militares de Myanmar contra os Rohingya em 2017. É possível assinar uma petição pela reparação efetiva das comunidades Rohingya aqui.

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A Meta (Facebook) deve reparar de forma efetiva as comunidades Rohingya

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