8 Julho 2016

Dois anos após o início da ofensiva militar israelita sobre a Faixa de Gaza, lançada a 8 de julho de 2014 e que durou 50 dias, continuam a não ter sido feitas investigações criminais sérias e ninguém foi responsabilizado pelas atrocidades que causaram um nível de destruição e mortes sem precedentes na região, apesar das provas de que foram cometidos crimes de guerra por ambas as partes.

No novo briefing – intitulado “Time do adress impunity: Two years after the 2014 Gaza/Israel war” (É hora de acabar com a impunidade: dois anos desde a guerra entre Gaza e Israel de 2014), a Amnistia Internacional reporta uma série de entrevistas com familiares de pessoas que foram mortas durante os 50 dias de guerra, detalha as falhas nos inquéritos que foram feitos desde então pelas autoridades militares israelitas e analisa vários ataques que claramente tomaram civis como alvo em violação flagrante da lei internacional humanitária.

“Não consigo compreender como é que um crime que aconteceu mesmo em frente das câmaras, em que o mundo inteiro viu serem massacradas sem nenhuma misericórdia crianças que estavam a brincar na praia, pode continuar impune, sem que nenhum criminoso seja responsabilizado”, lamentou Sobhi Bakr, familiar de quatro dos rapazes que foram mortos num ataque aéreo de Israel a 16 de julho de 2014.

“Durante os 50 dias de ataques, as forças israelitas causaram destruição e morte de forma maciça na Faixa de Gaza, tendo morto quase 1 500 civis, mas de 500 dos quais eram crianças”, critica o diretor da Amnistia Internacional para o Médio Oriente e Norte de África, Philip Luther.

As únicas acusações criminais que resultaram dos inquéritos militares de Israel foram formuladas contra três soldados por ofensas relativamente menores, de pilhagem e obstrução a investigação. Crimes muito mais graves, alguns dos quais são provavelmente crimes de guerra, permanecem impunes.

Do lado palestiniano não foram feitas quaisquer investigações genuínas às violações, incluindo a crimes de guerra, cometidas pelo Hamas e grupos armados palestinianos. Milhares de rockets imprecisos e morteiros foram disparados por grupos armados palestinianos contra áreas civis de Israel, causando a morte a seis civis, e as forças do Hamas executaram sumariamente e atacaram palestinianos que percecionaram como seus inimigos.

“O facto de ninguém ter sido responsabilizado pelos crimes de guerra que foram evidentemente cometidos por ambos os lado no conflito é totalmente indefensável. Passaram-se dois anos e é mais do que chegada a hora para que as rodas da justiça comecem a mover-se”, insta Philip Luther.

A Amnistia Internacional exorta Israel a encetar reformas aos seus mecanismos de investigação, incluindo para assegurar que os organismos que fazem as investigações são independentes daqueles que dão as ordens dos ataques militares, que os executam ou sobre os quais prestam aconselhamento.

O governo de consenso nacional palestiniano deve também assegurar que são feitas investigações criminais independentes aos crimes de guerra cometidos por palestinianos durante a guerra de 2014.

As autoridades do Hamas em Gaza têm de ser transparentes sobre todos os progressos feitos nas suas investigações às execuções sumárias e outros abusos de palestinianos na região.

A Amnistia Internacional insta todas as partes a cooperarem totalmente com o exame preliminar em curso no gabinete do Procurador do Tribunal Penal Internacional aos alegados crimes cometidos durante o conflito.

 

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