28 Janeiro 2016

Novas imagens de satélite, vídeos e relatos testemunhais analisados pela Amnistia Internacional comprovam de forma sólida que dezenas de pessoas foram mortas pelas forças de segurança do Burundi na vaga de violência de dezembro passado e depois enterradas em valas comuns.

Tanto imagens de vídeo como captações satélite antes e depois da data dos ataques, constantes desta investigação, mostram claramente cinco locais de valas comuns na área de Buringa, nos arredores de Bujumbura, a capital do país. Nestas imagens, recolhidas em dezembro e em inícios do corrente mês de janeiro, é possível ver zonas de terra mexida que são consistentes com os relatos ouvidos pelos investigadores da organização de direitos humanos.

Várias testemunhas relataram à Amnistia Internacional que as valas foram cavadas na tarde de 11 de dezembro, no rescaldo do mais sangrento dia da crise em espiral no Burundi.

“Estas imagens sugerem que houve um esforço deliberado por parte das autoridades para encobrir a extensão das mortes cometidas pelas forças de segurança e para impedir que a verdade seja conhecida”, frisa a diretora da Amnistia Internacional para a Região da África Oriental, do Corno de África e dos Grandes Lagos, Muthoni Wanyeki.

Os investigadores da Amnistia Internacional encontravam-se em missão em Bujumbura quando as mortes se deram e visitaram logo no dia seguinte alguns dos bairros onde ocorreu a vaga de violência, incluindo Nyakabiga.

Residentes naquelas áreas descreveram que os corpos de pelo menos 21 homens foram deixados nas ruas, em valas de esgotos ou nas casas onde foram mortos. Os investigadores encontraram grandes manchas de sangue nos locais onde algumas das vítimas foram mortas, mas os cadáveres tinham entretanto sido removidos.

Testemunhas contaram à Amnistia Internacional que agentes da polícia e outros responsáveis locais vasculharam Nyakabiga de ponta a ponta, assim como outros bairros, para recolher os corpos dos mortos e que os levaram para locais desconhecidos.

A mãe de um rapaz de 15 anos que fora alvejado na cabeça quando fugia para se abrigar num telheiro próximo, no bairro de Musaga, relatou que uma carrinha de caixa aberta dos serviços do presidente da Câmara local retirou o corpo das ruas. Os homens que recolheram o cadáver do seu filho recusaram-se a dizer-lhe para onde o levavam. “Não sei onde está, nem sequer se ele foi enterrado”, disse.

Além do que foi detetado em Buringa, a Amnistia Internacional recebeu relatos credíveis da existência em vários outros locais de outras suspeitas valas comuns com os restos mortais de pessoas mortas a 11 de dezembro, incluindo nos cemitérios de Mpanda e de Kanyosha.

Fontes locais indicaram que 25 corpos foram enterrados em cinco valas comuns em Mpanda, outros 28 em quatro valas comuns em Kanyosha. Não é conhecida informação precisa sobre quantos cadáveres se encontram em outras zonas escavadas.

A confirmação destas descobertas surge na esteira da publicação, pela Amnistia Internacional, a 22 de dezembro, do briefing “My children are scared”: Burundi’s deepening human rights crisis”. E é feita dias antes de os líderes africanos discutirem o conflito no Burundi no âmbito da cimeira da União Africana, em Addis-Abeba.

“Os líderes africanos reunidos na cimeira da União Africana têm de exortar o Governo do Burundi a darem acesso aos investigadores internacionais a todas as suspeitas valas comuns e a lançarem uma investigação imediata, independente e imparcial a estas mortes e às razões porque a maior parte das famílias não tiveram a oportunidade de recolher e enterrar os seus mortos”, insta Muthoni Wanyeki.

A diretora da Amnistia Internacional para a Região da África Oriental, do Corno de África e dos Grandes Lagos sustenta que “as famílias têm o direito de saber o que aconteceu aos seus entes queridos e a enterrá-los com dignidade”. “Estas suspeitas valas comuns têm de ser isoladas [de qualquer contaminação de provas] até que se possam fazer as investigações, e os corpos que nelas sejam encontrados devem ser exumados para se determinar as causas de morte”, remata.

 

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