24 Março 2015

 

A cantora folk norte-americana Joan Baez e o artista chinês Ai Weiwei – ambos conceituados ativistas pelos direitos humanos – são os escolhidos em 2015 com o Prémio de Embaixadores de Consciência, o maior galardão atribuído pela Amnistia Internacional.

O anúncio da escolha de Baez e Weiwei foi divulgado esta terça-feira, 24 de março. O Prémio Embaixadores de Consciência, concedido anualmente, reconhece indivíduos que demonstram uma liderança excecional na defesa dos direitos humanos ao longo da vida e no seu trabalho.

Este prémio será entregue este ano numa cerimónia em Berlim, a 21 de maio, contando com a presença de vários oradores, incluindo a cantautora Patti Smith.

“O Prémio Embaixador de Consciência é uma celebração de pessoas únicas que usaram o seu talento para inspirar muitas outras a lidar com a injustiça de forma muito pessoal. É por isso que tanto Joan Baez como Ai Weiwei são tão dignos destinatários deste galardão, pois ambos são uma inspiração para milhares de ativistas de direitos humanos, da Ásia à América e mais além”, avalia o secretário-geral da Amnistia Internacional, Salil Shetty.

Este 24 de março é também o 50º aniversário da performance de Joan Baez na icónica marcha de direitos civis de Selma até Montgomery, no Alabama, Estados Unidos. Baez foi um dos artistas que participaram na manifestação/concerto “Stars for Freedom” naquela ocasião, tal como Harry Belafonte (que recebeu o Prémio Embaixador de Consciência em 2013), Sammy Davis Jr., os Peter, Paul & Mary e ainda Nina Simone.

Joan Baez dedidou a sua vida à não-violência e ao ativismo pelos direitos civis e direitos humanos. Participou em marchas e manifestações em defesa dos direitos civis ao lado de grandes personalidades como Martin Luther King, faz campanha contra a pena de morte, foi uma das mais importantes vozes pela paz e contra os abusos de direitos humanos no Vietname, defende os direitos dos trabalhadores agrícolas migrantes no estado da Califórnia, participou em protestos contra a tortura, e é uma apoiante das campanhas de defesa dos direitos das comunidades lésbica, gay, bissexual, transgénero e intersexual (LGBTI).

Foi uma figura determinante na consolidação de grupos da Amnistia Internacional na região de São Francisco no início da década de 1970, e fez concertos de apoio à organização durante a sua tournée pioneira “Conspiracy of Hope” pelo 25º aniversário da Amnistia Internacional em 1986.

“Com a sua voz hipnotizante e o seu compromisso inabalável com os direitos humanos para todos e o protesto pacífico, Joan Baez tem sido uma força extraordinária pelo bem ao longo de mais de cinco décadas”, frisa Salil Shetty.

Ao saber-se escolhida como Embaixadora de Consciência, Joan Baez disse: “A Amnistia Internacional atraiu-me devido ao seu princípio fundador de que todos os abusos de direitos humanos e o sofrimento que estes criam são inaceitáveis. O processo de eliminar esses abusos, mesmo que passo a passo, criou um movimento de compaixão, apartidário e poderosamente eficaz. Tenho muita sorte em fazer parte disto e sinto-me honrada com a atribuição deste prémio”.

Ai Weiwei é um artista de renome mundial e uma conhecida voz crítica das políticas do Governo chinês. O seu aclamado trabalho explora com frequência os limites que são impostos ao exercício dos direitos de expressão dos indivíduos na China, assim como a sua experiência pessoal na prisão. O trabalho e a atividade de Ai Weiwei lidam amiúde com questões sensíveis que o Governo chinês preferiria que não fossem abordadas.

Em 2010, Ai Weiwei foi detido e permaneceu preso durante um curto período de tempo, durante o qual foi severamente espancado por agentes das forças de segurança, pouco antes da data marcada para testemunhar no julgamento do ativista ambiental Tan Zuoren – o qual, tal como Ai Weiwei, documentou os nomes das milhares de crianças que morreram durante o terramoto de maio de 2008 em Sichuan.

Depois de muito tempo sob perseguição constante das autoridades, Ai Weiwei foi detido durante 81 dias em 2011, sem que lhe fosse deduzida qualquer acusação. Uma empresa da qual era fundador foi posteriormente alvo num julgamento por evasão fiscal na China. Ai Weiwei permanece até hoje sob vigilância apertada das autoridades chinesas e impedido de sair do país.

Um dos seus mais recentes trabalhos inclui uma exposição na prisão de Alcatraz, na Califórnia, com enfoque no sofrimento dos prisioneiros políticos dos nossos dias.

“Através do seu trabalho, Ai Weiwei recorda-nos que o direito de todos e cada indivíduo a expressar-se tem de ser protegido – não apenas em prol da sociedade, mas sim também em prol da arte e da humanidade”, sustenta o secretário-geral da Amnistia Internacional.

Ao ser-lhe comunicada a atribuição do Prémio Embaixador de Consciência, Ai Weiwei disse: “Sinto-me privilegiado em receber esta honra tão especial, e não falharei perante o encorajamento e as profundas expectativas expressas em mim com este prémio”.

 

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