11 Dezembro 2013

O jovem ativista Jabbar Savalan, do Azerbaijão, mal podia acreditar no que via quando os guardas prisionais lhe entregaram, pela primeira vez, um saco de cartas. A maior parte era de pessoas que ele nunca conhecera, de países onde ele jamais estivera – todas o encorajavam a manter-se forte e diziam-lhe que estavam a exercer pressão sobre as autoridades no país para que o libertassem.

“Recebi mais de quatro mil cartas. Vinham de sítios como a Alemanha, os Estados Unidos, o Japão e a Austrália. As cartas deram-me muita força. O apoio da Amnistia Internacional fez-me ganhar também o respeito de outros presos e de guardas que sabiam que eu estava ali apenas por ter expressado a minha opinião”, conta Jabbar Savalan.

Tinha sido detido em Fevereiro de 2011, sob acusações de posse droga – um dia apenas depois de ter feito um post no Facebook em que propunha que se realizassem no país manifestações contra o Governo semelhantes às que estevam a acontecer no Egito, em plena vaga da primavera Árabe. A condenação que lhe foi proferida em tribunal baseou-se sobretudo numa confissão que lhe foi extraída sob coação enquanto estava detido sem lhe ser permitido acesso a um advogado.

Quando a Amnistia Internacional descobriu a história de Jabbar Savalan, o caso deste ativista foi incluído no grupo de dez casos adotados na campanha global de cartas em que homens, mulheres e crianças de todo o mundo escrevem durante vários dias a responsáveis governamentais instando-os a protegerem o livre exercício de direitos humanos daquelas pessoas em risco. Jabbar Salavan tornou-se assim um dos casos da Maratona de Cartas de 2011.

“Lembro-me especialmente de algumas cartas que vinham da Alemanha e dos Estados Unidos, nas quais me enviaram fotografias de apoiantes que seguravam numa fotografia minha. Ver todas aquelas pessoas, de tantos sítios do mundo, a fazerem aqueles esforços por mim… fez-me sentir profundamente humilde”, recorda o ativista.

Jabbar recebeu um perdão presidencial algumas semanas após ter terminado a Maratona de Cartas da Amnistia Internacional de 2011. Foi finalmente libertado da prisão em finais desse ano.

 

O poder de uma carta

Desde que a campanha da Maratona de Cartas foi lançada, há 12 anos, numa pequena cidade da Polónia, esta iniciativa da Amnistia Internacional tem crescido até se tornar num dos maiores eventos globais de direitos humanos.

Através de eventos públicos e ações na Internet, centenas de milhares de pessoas unem-se todos os anos, por volta de 10 de dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos, para agir em prol de outras. Só em 2012, mais de meio milhão de pessoas, oriundas de 77 países, participaram na campanha, juntando mais de 1,9 milhões de assinaturas a favor de 12 indivíduos. Estima-se que este ano sejam muito mais.

Desde a origem, a maratona de Cartas tem ajudado a levar uma luz a milhares de pessoas em sofrimento no mundo e produziu uma mudança na vida de muitas. Na China, o advogado de direitos humanos Gao Zhisheng recebeu a visita da família na prisão pela primeira vez em nove meses depois de, no ano passado, ter sido exercida pressão sobre as autoridades pelos membros da Amnistia Internacional. No ano anterior, as autoridades mexicanas cederam aos apelos públicos e acabaram por reconhecer formalmente responsabilidade do Estado no caso de violação e abuso de duas mulheres indígenas por parte de soldados que ocorrera em 2002.

Para outros, a pressão feita por estas cartas conduziu à libertação. O líder da oposição na Gâmbia, Femi Peters, sabe exatamente como isso acontece.

Femi foi libertado da prisão a 10 de dezembro de 2010, após ter cumprido quase toda a pena de 12 meses por crimes ligados a uma manifestação pacífica que o seu Partido Unido Democrático organizara em outubro de 2009. O Ministério Público acusara-o de “controlo de marcha e uso de altifalantes em público” numa manifestação que não recebera autorização do Gabinete do Inspetor Geral da Polícia, conforme é exigido pela Lei de Ordem Pública no país. Em Abril de 2010, Femi Peters foi condenado a um ano de prisão e multado em 10 mil dalasi (pouco mais de 190 euros).

Enquanto estava na prisão, Femi recebeu cópias de centenas de cartas que apoiantes e membros da Amnistia Internacional tinham enviado para o Presidente da Gâmbia, Yahya Jammeh, instando à sua libertação. “Disseram-me que mais de 24 mil cartas tinham sido escritas em meu favor. Cartas escritas por pessoas nos Estados Unidos, na Alemanha, em França, na Holanda, de muitos países na América latina, até no Japão. Isto fez-me perceber que o mundo inteiro estava comigo”, sublinha o político.

E promete: “Vou continuar a lutar por uma boa governação, pela democracia e pelo Estado de direito onde quer que esteja. Direi às pessoas que permaneçam determinadas e que desafiem o poder e mantenham a luta viva. As pessoas têm de saber que existe uma organização como a Amnistia Internacional que luta pela verdade em defesa de prisioneiros que merecem mais e melhor. Direi às pessoas que têm de defender aquilo em que acreditam”.

Por seu lado, o ativista Jabbar Savalan sublinha que o auxílio que recebeu enquanto esteve preso o ajudou a superar aqueles tempos difíceis. “Foi um tão grande apoio que não me senti preso. Não me senti sozinho. Sabia queaspessoas acreditavam em mim”.

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