26 Julho 2016

A crise mundial de refugiados – cerne de uma nova campanha global da Amnistia Internacional, a ser lançada em setembro – foi a tónica máxima do Encontro Europeu de Juventude da organização de direitos humanos que, entre 21 e 25 de julho, juntou quase 40 jovens ativistas, oriundos de mais de uma dezena de países, em Peniche.

“A situação de refugiados e migrantes, e as questões de asilo, na Europa e no mundo, foram os temas centrais de muitos workshops e sessões de trabalho, não apenas numa perspetiva de aquisição e partilha de informação mas também sobre a dimensão emocional e humanitária que esta crise envolve”, explica a austríaca Clara Zimmermann, de 21 anos e estudante de Direito e de Filosofia, que faz parte do grupo de estudantes da Amnistia Internacional em Viena d’Áustria.

Inês Pereira, membro da ReAJ-Rede de Ação Jovem da Amnistia Internacional Portugal, junta, por seu lado, que considerou especialmente interessante como foi trabalhada “a relação de cada um com este problema, e a capacidade de identificação do refugiado como um indivíduo”. “Ficámos também a conhecer as ideias principais da nova campanha global”, acrescenta a jovem, de 20 anos, e que terminou o curso de Ciências da Comunicação.

A nova campanha global da AI que incidirá na crise de refugiados, na esteira do trabalho que a organização tem vindo a fazer ao longo dos recentes anos, tem a ideia central “de partilha da responsabilidade”, sublinha o coordenador da ReAJ Francisco Cardoso, estudante de Línguas, Literaturas e Culturas, de 22 anos. “Isto quer dizer que todos os países têm de partilhar os esforços para dar soluções à crise de refugiados. A concentração da esmagadora maioria dos refugiados da Síria nos países vizinhos, por exemplo, é insustentável. E o mesmo acontece no mundo inteiro, em que 86% da população de refugiados se encontra em países com mais baixos rendimentos. O que queremos que se perceba e aconteça é que os países mais ricos, na Europa, no mundo, partilhem esta responsabilidade de acolher os refugiados”, defende.

“É crucial que se entenda que o direito a asilo é um direito humano; não é ser generoso, não é ser magnânimo, mas sim fazer cumprir os direitos humanos de quem foge da guerra, de perseguições, é fazer com que os direitos humanos dos refugiados sejam respeitados”, frisa Clara Zimmermann.

Um dos momentos destacados por estes três jovens que participaram no encontro foi a ação de rua que encheu uma praça da baixa de Peniche no domingo, 24 de julho, em que o espaço foi transformado num “jogo de tabuleiro” que reproduzia a viagem que refugiados da Síria, do Iraque e da Eritreia fazem para chegar à Europa, passando pelo caos e os riscos de tráfico humano e exploração na Líbia ou pela perigosa travessia marítima do Mediterrâneo.

“Abordávamos as pessoas na rua e desafiávamo-las a descobrirem as experiências pelas quais se passa nestas rotas. No final tínhamos uma mesa para receber o feedback dos participantes, dar informação sobre o que a Amnistia Internacional tem feito sobre a crise de refugiados”, descreve Inês Pereira.

“E havia uma mesa com comida e três lugares vagos, para criar a ideia de que há lugares livres à mesa, há capacidade para acolher as pessoas e fazê-lo bem, com dignidade”, acresce Clara Zimmermann. Francisco Cardoso junta ainda que queriam nesta ação de rua “dar também dar a ideia de uma típica casa portuguesa, como a do fado [de Amália Rodrigues, “Uma casa portuguesa”] – numa imagem que tivesse uma mensagem forte para as redes sociais”.

Um encontro de jovens ativistas desta natureza e dimensão é para Clara Zimmermann “uma das coisas mais bonitas e enriquecedoras, com tantas pessoas que partilham os mesmos valores e ideias de defesa dos direitos humanos”. “É extraordinário termos a oportunidade de conhecer outras pessoas, descobrir as suas histórias, as razões porque estão na Amnistia Internacional, e mais ainda a sensação de força e encorajamento que se obtém desta partilha de princípios. Faz-nos sentir que somos capazes de mudar as coisas, de fazer mais e melhor pelos direitos humanos”, regozija-se a jovem austríaca.

Para Francisco Cardoso, a experiência dos cinco dias do Encontro Europeu de Juventude da AI foi especialmente interessante pela possibilidade “de estar e conversar com pessoas de outros países e perceber que os problemas que temos são similares e que a resposta à crise de refugiados tem os mesmos contornos: na forma como os órgãos de comunicação social tratam o assunto, nos discursos políticos e como a sociedade olha para tudo isto”. “Temos muito em comum”, nota.

“E também é muito gratificante ver que toda a gente está a fazer grandes esforços e está muito empenhada em encontrar soluções para os problemas”, acrescenta Inês Pereira.

 

      

 

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