1 Julho 2015

Moses Akatugba, que se encontrava preso no corredor da morte de uma prisão na Nigéria, foi perdoado ao fim de 10 anos atrás das grades, a 28 de maio passado. Fora detido e torturado aos 16 anos para lhe ser extraída uma confissão por um crime que assevera nunca ter cometido. Aqui, conta como foi a primeira semana passada em liberdade.

“Quando telefonei à minha mãe da prisão para lhe dizer que tinha sido perdoado ao fim de dez anos na prisão, ela desmaiou. Contaram-me depois que tiveram de lhe deitar água em cima para que ela recuperasse os sentidos. Finalmente, ao reencontrarmo-nos pela primeira vez após todos aqueles anos que passei preso, a minha mãe agarrou-me a deu-me um abraço tão apertado. Não me largou durante uns 15 minutos. E esteve esse tempo todo a chorar de alegria.

Futebol e sumos, a celebração com os amigos do corredor da morte

Eu próprio rejubilei quando me deram a notícia do perdão, eram umas 16h do dia 28 de maio. De início nem consegui falar, de tão feliz que me senti. No dia seguinte, celebrei na prisão: organizei uma partida de futebol entre os presos no corredor da morte e outros detidos. Eu fui o treinador da equipa de futebol do corredor da morte enquanto estive na prisão. Vencemos aquele jogo, por 3-0! Estávamos todos tão felizes por jogar aquela partida.

No domingo seguinte fui à igreja da prisão. Tinha comprado biscoitos e sumos de fruta para partilhar com os outros presos na igreja e foi feito um anúncio durante o serviço de que eu ia ser liberto. Toda a gente ficou muito feliz por mim. Eu fiz amigos na prisão. E tinha andando a ensinar inglês e matemática a outros presos e aqueles que eram estudantes mais aplicados tornaram-me meus amigos.

Fui liberto uns dias depois. Naquela primeira noite em casa, a minha mãe preparou uma refeição especial: sopa de quiabo com carne. A família toda estava junta à mesa. E depois fizemos uma festa com amigos e cantámos, tocámos música e rezámos. Rezámos por todos os ativistas que fizeram campanha pela minha libertação, os da Amnistia Internacional e também por Justine Ijeomah [diretor da Fundação de Direitos Humanos para o Desenvolvimento Social e Ambiental] e pela mulher dele, Goodness Justine. Todos na festa partilhámos as bebidas uns com os outros.

Dormi tão bem nessa primeira noite em que dormi na minha cama. E o que mais me impressionou foi não ouvir a sineta do despertar da prisão às 5h da manhã. Fiquei à espera de o ouvir e depois dei-me conta de que não estava a sonhar, que de facto eu estava livre. Ao perceber isso, senti a liberdade bem fundo no meu espírito. As coisas tinham mesmo mudado. Voltei a adormecer e dormi profundamente até às 10h, desfrutando totalmente o meu ‘sono de liberdade’. A minha família veio acordar-me mas disse-lhes para me deixarem dormir um pouco mais. Foi uma bela noite de sono.

Estou vivo, não sou um fantasma!

Nesses primeiros dias de liberdade, encontrei um antigo amigo da escola e ele olhou para mim como se estivesse a ver um fantasma. Temos uma crença aqui de que se atirarmos areia a um espírito ele desaparece – por isso esse meu amigo dobrou-se para apanhar areia do chão e atirá-la contra mim.

Disse-lhe: ‘Não me atires areia, eu estou vivo, não sou um fantasma!’ E aí ele tocou-me e depois abraçou-me. Ele pensava que eu tinha sido executado. Disse-me que jamais esqueceria a última vez que me tinha visto antes de eu ser detido, há dez anos.

Em casa, tudo me parecia estranho, apesar de me sentir tão aliviado por estar livre. Muitas coisas mudaram nestes 10 anos em que estive preso: foram construídas pontes novas e os computadores portáteis e os telemóveis são agora comuns.

Junto-me à luta contra a tortura

Os meus planos agora que sou livre são de continuar a estudar e chegar tão longe como sempre sonhei – quero ser médico para cumprir os desejos do meu pai, que já morreu. Mas serei também um ativista de direitos humanos e vou ajudar outros que enfrentam o mesmo que eu vivi.

Já preenchi um formulário de inscrição e tirei uma fotografia de tipo passe – que é o que é necessário para me tornar ativista voluntário da Fundação de Direitos Humanos para o Desenvolvimento Social e Ambiental.

O diretor da organização, Justine, acolheu-me calorosamente chamando-me ‘camarada Moses Akatugba’. E eu disse-lhe: ‘Justine, estou a juntar-me à luta contra a tortura para que outros não passem pelo sofrimento que eu passei’.”

 

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