11 Fevereiro 2015

A União Europeia e todos os seus Estados-membros devem envergonhar-se face às notícias da morte de mais de 300 migrantes, que se crê terem-se afogado no mar alto, no início da semana, entre 8 e 9 de fevereiro, quando os barcos pneumáticos em que viajavam se viraram em frente à costa da ilha italiana de Lampedusa.

“Esta nova tragédia concretiza os nossos maiores receios sobre o fim das operações de patrulha, busca e salvamento italianas Mare Nostrum e expõe as já bem previsíveis consequências do falhanço da União Europeia em providenciar uma abordagem substituta adequada”, denuncia o diretor do Programa Europa e Ásia Central da Amnistia Internacional, John Dalhuisen.

Este responsável da organização de direitos humanos frisa que “a crise humana que tornou necessária a Mare Nostrum não desapareceu”. “Com tantas pessoas ainda a fugir de guerras e de perseguição, os Estados-membros da União Europeia [UE] têm de tirar a cabeça da areia enquanto centenas continuam a morrer no mar”, sustenta.

De acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR, UNHCR na sigla em inglês), o número de migrantes irregulares que chegaram à Europa por mar em janeiro de 2015 aumentou em cerca de 60 por cento em relação ao mesmo mês do ano anterior, altura em que a Mare Nostrum ainda estava operacional. Este facto demonstra com clareza a falácia das declarações de que aquelas operações de busca e salvamento ao largo da costa de Itália – e cuja suspensão foi largamente divulgada – estavam a encorajar os migrantes a tomarem aquela rota extremamente perigosa para chegar ao espaço europeu.

A operação Tritão que foi entretanto acionada por toda a UE, e apresentada como substituta da Mare Nostrum italiana, não centra esforços na busca e salvamento, não faz patrulhas de rotina nas águas internacionais e é significativamente mais reduzida na sua escala.

“Esta é uma equação muito simples: conforme o número de pessoas que fazem esta perigosa rota marítima aumenta e os recursos alocados para as buscas e salvamento diminuem, são muito mais as pessoas que vão morrer”, reitera John Dalhuisen.

Na segunda-feira, 9 de fevereiro, morreram 29 migrantes, a maior parte deles de hipotermia, após a guarda-costeira italiana os ter resgatado de um bote pneumático onde seguiam 106 pessoas, incluindo crianças. Os relatos que emergiram deste caso sugerem que a operação de resgate foi extremamente difícil devido às condições atmosféricas adversas.

Segundo é noticiado pelos meios de comunicação social italianos sobre a tragédia, nove sobreviventes que seguiam em outros dois botes relataram à guarda costeira italiana que pelo menos mais de 200 migrantes estavam em dois outros pneumáticos que se viraram nas águas, e que ainda um terceiro barco – informação não totalmente confirmada – desapareceu sem nenhum sobrevivente das estimadas 100 pessoas que nele tentavam fazer a travessia do Mediterrâneo.

Estes botes pneumáticos seguiam à deriva em condições de mar muito perigosas, com ondas de uns oito metros e temperaturas alguns graus abaixo de zero, foi descrito pela guarda costeira italiana. Crê-se que as vítimas mortais teriam entre 18 e 25 anos e eram oriundos da África subsariana.

“É muito possível que a guarda costeira de Itália tenha feito tudo o que podia com os recursos de que dispunha. Esses recursos, claramente, não eram suficientes. A não ser que os Estados-membros da UE assumam seriamente o compromisso de aumentar as capacidades de patrulha, busca e salvamento na zona central do Mediterrâneo, tragédias como esta apenas se vão multiplicar”, insta o diretor do Programa Europa e Ásia Central da Amnistia Internacional.

 

A Amnistia Internacional tem em curso desde 20 de março de 2014 a campanha “SOS Europa, as pessoas acima das fronteiras“, iniciativa de pressão a nível global para que a Europa mude as políticas de migração e asilo, no sentido de que migrantes, refugiados e candidatos a asilo sejam tratados com dignidade à chegada às fronteiras europeias. Aja connosco! Inste os líderes europeus a porem as pessoas acima das fronteiras, assine a petição.

 

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