12 Setembro 2013

As tentativas de reparar os erros do passado têm falhado na Irlanda do Norte, uma região que ainda hoje está bastante dividida. A falta de vontade política tem impedido que se estabeleça a verdade e a justiça sobre as violações de direitos humanos que foram cometidas por todas as partes envolvidas no conflito.

No relatório “Northern Ireland: Time to Deal with the Past”, a Amnistia Internacional apela à criação de um mecanismo que analise as décadas de conflito na Irlanda do Norte, contribua para acabar com as divisões sociais no país, acabe com a impunidade e responsabilize quem cometeu violações de direitos humanos.

“Há uma ironia cruel no facto da Irlanda do Norte ser apresentada como uma história de sucesso quando muitos familiares das vítimas consideram que o seu tratamento foi uma falha” refere John Dalhuisen.

O diretor do programa da Amnistia Internacional para a Europa e Ásia Central acrescenta que várias medidas e investigações não tiveram sucesso em estabelecer a verdade sobre as violações e abusos do passado e deixaram muitas vítimas e seus familiares à espera de justiça.

A análise dos casos de pessoas que foram feridas, torturadas e vítimas de maus tratos, frequentemente excluídas dos processos existentes, é outra das propostas do relatório, publicado 15 anos após o Acordo de Belfast (Good Friday Agreement) e uma semana antes do início de novas negociações – moderadas pelo antigo emissário dos EUA na Irlanda do Norte, Richard Haass – sobre o passado e o futuro desta região.

Durante os conflitos na Irlanda do Norte, mais de 3.600 pessoas foram assassinadas e cerca de 40.000 ficaram feridas. Na maioria dos casos, não houve qualquer apuramento de responsabilidades.

“As pessoas dizem para esquecermos o passado e seguirmos em frente, que foi há 30 anos. Isso é conversa fiada. Na Irlanda do Norte o passado é o presente. Não quero que os meus netos tenham de sofrer com isto. As pessoas feridas são cicatrizes reais da sociedade e precisamos que seja reconhecido que sofremos”, afirma Peter Heathwood, que foi atingido por uma bala em 1979  – aparentemente disparada por um indivíduo leal ao Reino Unido – e ficou paralisado. 

James Miller, cujo avô foi uma das nove vítimas mortais de um suposto ataque à bomba do IRA, em 1972, reforça esta ideia: “A próxima geração vai continuar a colocar questões sobre o que aconteceu. Vejam o meu caso, foi o meu avô que foi morto e eu continuo a querer saber a verdade”.

Contextualização do conflito na Irlanda do Norte

Desde o final dos anos 1960 até à assinatura do Acordo de Belfast, em 1998, a Irlanda do Norte enfrentou um período de grande violência política entre grupos armados republicanos e as forças de segurança do Reino Unido, também apoiadas por grupos armados locais.

Os grupos armados republicanos – dos quais o mais famoso é o Exército Republicano Irlandês (IRA) – eram compostos maioritariamente por católicos, que desejavam a separação da Irlanda do Norte do Reino Unido e a unificação das duas Irlandas. Por outro lado, os grupos que apoiavam a permanência da Irlanda do Norte no Reino Unido eram maioritariamente protestantes.

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